terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

3 Poetas Românticos de Língua Alemã

"Deutschland, Deutschland über alles"... Essas traduções já estavam prontas há algum tempo (um ano aproximadamente), e decidi postá-las. Trata-se de 3 poesias de 3 poetas do romantismo alemão: Claudius, Heine e Seidl.

Para variar, as 3 poesias foram musicadas por Schubert. A seleção se deu a fim de colocar um grande poeta pouco conhecido em nossa língua (Claudius) e um grande poeta conhecido por essas bandas (Heine). Seidl entrou porque gosto da música, e seu poema, na verdade, foi feito para ser musicado e feito sobre temas folclóricos vienenses. A poesia de Seidl é fraca, mas boa em forma de música, tanto de Schubert como de Loewe (Die Uhr) e Haydn (Hino da Áustria). Enfim, cabe ao leitor o Juízo.


DER TOD UND DAS MÄDCHEN - Matthias Claudius


Das Mädchen:
  Vorüber! ach, vorüber!
  Geh, wilder Knochenmann!
  Ich bin noch jung, geh Lieber!
  Und rühre mich nicht an.


Der Tod:
  Gib deine Hand, du schön und zart Gebild!
  Bin Freund, und komme nicht zu strafen.
  Sei gutes Muts! Ich bin nicht wild,
  Sollst sanft in meinen Armen schlafen!




DIE STADT - Heine¹


Am fernen Horizonte
Erscheint, wie ein Nebelbild,
Die Stadt mit ihren Türmen,
In Abenddämmrung gehüllt.


Ein feuchter Windzug kräuselt
Die graue Wasserbahn;
Mit traurigem Takte rudert
Der Schiffer in meinem Kahn.


Die Sonne hebt sich noch einmal
Leuchtend vom Boden empor
Und zeigt mir jene Stelle,
Wo ich das Liebste verlor.


DER WANDERER AN DER MOND - Johann Gabriel Seidl


Auf Erden - ich, am Himmel – du²
Wir wandern beide rüstig zu:
Ich ernst und trüb, du hell³ und rein,
Was mag der Unterschied wohl sein?


Ich wandre fremd von Land zu Land,
So heimatlos, so unbekannt;
Berg auf, Berg ab, Wald ein, Wald aus,
Doch bin ich nirgend, ach! zu Haus.


Du aber wanderst auf und ab
Aus Ostens Wieg' in Westens Grab,
Wallst Länder ein und Länder aus,
Und bist doch, wo du bist, zu Haus.


Der Himmel, endlos ausgespannt,
Ist dein geliebtes Heimatland;
O glücklich, wer, wohin er geht,
Doch auf der Heimat Boden steht!






A MORTE E A GAROTA - Matthias Claudius

A Garota:
  Vai-te! Coisa ruim! Vai-te
  Vá embora, selvagem caveira!
  Ainda sou jovem, vá, me acate!
  Deixe minha vida costumeira.

A Morte:
  Dê-me sua mão, sua forma é bela e calma!
  Sou amigo, não vim para te punir.
  Não sou selvagem, mas uma boa alma,
  Em boas mãos docemente vais dormir!

A CIDADE - Heinrich Heine

No distante horizonte
Como uma imagem formada
Nas brumas surgiu a cidade,
Pelo ocaso agarrada.

Franze um fluxo de ar úmido
No curso cinza da água;
Um remador em meu bote
Numa cadência de mágoa.

O sol outra vez, radiante,
Alça-se na terra erguida,
Mostrando-me aquela estrela
Onde perdi minha querida.

O ANDARILHO NA LUA - Johann Gabriel Seidl

Tu sobre os céus, eu sobre os campos,
Juntos vivamente viajamos:
Eu grave e triste, tu branda e pura,
Pode haver distinção alguma?

De chão em chão, aventureiro
Sem lar, anônimo estrangeiro;
De selva e montes vim e vou,
Jazo ao nada, infausto estou.

Porém, tu abaixo e acima vais
Do berço ao leste à poente paz,
Peregrinas de chão em chão,
Toda parte é teu lar então?

O céu, que se estende ao sem fim,
É a querida pátria; assim
Feliz é quem, aonde quer que vá,
Esteja sempre em vero lar!



¹ O título não é de Heine, mas da música de Schubert. O Poema faz parte do Buch der Lieder e não possui título originalmente.
² Na música, esse verso é diferente.
³ Na música há a palavra "mild" no lugar de "hell", e a tradução preferiu usar o "mild", já que prefiro a música ao poema.

O que dizer desses poemas? São variáveis em qualidade. Claudius usa o tema Der Tod und das Mädchen, que é um tema caro à literatura, e é derivado do Totentanz, que é mais caro ainda. Schubert escreveu a música sobre esse poema aos 18 anos, e é uma verdadeira obra prima, o que prova que Warren e Wellek estavam errados ao dizer que a boa poesia não serve para a música. Acho impressionante como se pode fazer uma boa poesia em alemão com expressões tão prosaicas como Gute Nacht, Ich liebe dich, acht vöruber. Os compostos em alemão são sempre um problema para a tradução... por exemplo, como traduzir Knochenmann (Knoch, osso + Mann, homem)? Só me resta a palavra caveira ou esqueleto, mas perde-se a composição, fazer o quê? Mantive na tradução a rima verbal da fala da morte (punir, ferir), e procurei manter  o léxico prosaico, apesar de que a Calma e a Alma ficaram horríveis no poema.

O poema de Heine, um de meus poetas favoritos (e olha que a língua alemã tem Rilke, Goethe, Schiller e inúmeros outros), é simples, mas dá para se ver um aspecto sinistro e carontesco. Acho incrível como, apesar de todos verem Heine como poeta do amor e da natureza (incluindo Schumann, que também musicou o poeta), Schubert consegue amar e ver em Heine o poeta mitológico e sinistro da língua alemã (ver Der Doppelgänger e Die Krahe, em oposição ao Intermezzo 9 por exemplo). Na tradução perdi a composição (Abenddämmerung, que ficaria melhor vertido como pôr-do-sol) e uma imagem (a da cidade com torres, como se fosse um palácio). Na segunda estrofe tive de inverter os dois últimos versos, devido a rima. Final dramático no original, enquanto na tradução é mais romantizado. Schubert consegue melhor que eu dar drama para o final, enquanto tiro um pouco desse drama, mas o resultado final não é ruim.

Enfim, por último, o poema de Seidl me deu muita dificuldade pelos seus versos em monossílabos (como Berg auf, Berg ab, Wald ein, Wald aus), por isso perdi um pouco o ritmo ao traduzir, daí essa tradução não é cantável. Mas enfim, ao menos tentei.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Des Mädchens Klage - Schiller

Friedrich von Schiller, sem dúvidas, é um dos maiores poetas de língua alemã, ao lado de Goethe, Heine e Rilke. Um dos grandes nomes da história da literatura alemã, foi muito musicado por aquele que é o cantor de Viena: Schubert. Só para variar, estou traduzindo um poema que virou Lied por Schubert, Des Mädchens Klage, que virou música 3 vezes pelo mesmo compositor (D.6, D.191 e D.389)

DES MÄDCHENS KLAGE - Schiller

Der Eichwald braust, die Wolken ziehn,
Das Mägdlein sitzt an Ufers Grün,
Es bricht sich die Welle mit Macht, mit Macht,
Und sie seufzt hinaus in die finstre Nacht,
Das Auge von Weinen getrübet.

"Das Herz ist gestorben, die Welt ist leer,
Und weiter gibt sie dem Wunsche nichts mehr,
Du Heilige, rufe dein Kind zurück,
Ich habe genossen das irdische Glück,
Ich habe gelebt und geliebet!"

Es rinnet der Tränen vergeblicher Lauf,
Die Klage, sie wecket die Toten nicht auf;
Doch nenne, was tröstet und heilet die Brust
Nach der süßen Liebe verschwund'ner Lust,
Ich, die Himmlische, will's nicht versagen.

"Laß rinnen der Tränen vergeblichen Lauf,
Es wecke die Klage den Toten nicht auf!
Das süßeste Glück für die traurende Brust,
Nach der schönen Liebe verschwund'ner Lust,
Sind der Liebe Schmerzen und Klagen."



O LAMENTO DA MOÇA - Schiller

Formam-se nuvens, os bosques a gritar,
Uma moça está em verde orla ao mar,
Com força e com força quebram-se as ondas
E ela suspira na noite hedionda,
Olhos devido as lágrimas nublados.

"O coração está morto, o mundo é nada,
E nada mais é coisa desejada,
Vós que sois santo! Devolva o seu filho,
Tenho abdicado do mundano brilho,
Tenho vivido e também tenho amado"

Escorrem lágrimas no rosto, em vão.
Os lamentos acordam os mortos? Não!
Dize o que ao coração conforta e cura
Quando o prazer do amor já não perdura,
Eu, oh Senhor, não falharei agora.

“Deixa escorrer as lágrimas, em vão.
Mortos acordam co’os lamentos? Não!
Ao coração em luto bonança e cura
Quando o prazer do amor já não perdura,
É o sofrimento do amor que chora."

Trad: Raphael Soares