domingo, 29 de abril de 2012

When Man Enters Woman - Anne Sexton

Mais uma poesia da minha poeta lunática favorita: Anne sexton.

When Man Enters Woman - Anne Sexton
When man
enters woman,
like the surf biting the shore,
again and again,
and the woman opens her mouth in pleasure
and her teeth gleam
like the alphabet,
Logos appears milking a star,
and the man
inside of woman
ties a knot
so that they will
never again be separate
and the woman
climbs into a flower
and swallows its stem
and Logos appears
and unleashed their rivers.

This man,
this woman
with their double hunger,
have tried to reach through
the curtain of God
and briefly they have,
though God
in His perversity
unties the knot. 



Quando o homem penetra a mulher - Anne Sexton

Quando o homem,
penetra a mulher
como as ondas quebrando-se
e mordendo a costa,
outra vez, e outra vez,
e a mulher com prazer abre a boca
e seus dentes aclaram
como o alfabeto,
Logos surge ordenhando um astro,
e o homem
dentro da mulher
forma um nó,
então eles nunca
serão separados outra vez.
E a mulher
monta uma flor
e engole seu talo
e Logos surge
e libera seus rios.

Esse homem
e essa mulher
com fome dupla,
tentaram ultrapassar,
e por um tempo conseguiram,
as cortinas de Deus,
e é pela perversidade
d’Ele que
o nó se desfaz.

Trad: Raphael Soares

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Le Vin des amants - Charles Baudelaire

Le Vin des amants - Charles Baudelaire

Aujourd'hui l'espace est splendide!
Sans mors, sans éperons, sans bride,
Partons à cheval sur le vin
Pour un ciel féerique et divin!

Comme deux anges que torture
Une implacable calenture
Dans le bleu cristal du matin
Suivons le mirage lointain!

Mollement balancés sur l'aile
Du tourbillon intelligent,
Dans un délire parallèle,

Ma soeur, côte à côte nageant,
Nous fuirons sans repos ni trêves
Vers le paradis de mes rêves!

O Vinho dos Amantes - Charles Baudelaire

O espaço é esplêndido agora!
Sem freio, ou brida ou espora,
Vamos cavalgar sobre o vinho
Para um céu feérico e divino!

Como dois anjos que tortura
Uma implacável calentura
Do azul da aurora, cristalino,
Indo à miragem no caminho.

Calma, balançando sobre a asa
Do turbilhão inteligente,
Em um delírio que os abraça,

Irmã, nadando concorrente,
E chegaremos sem demônios
Ao paraíso dos meus sonhos.

Trad: Raphael Soares

Tradução extremamente inspirada em outras traduções anteriores, como a de Ignácio de Souza, de Ivan Junqueira e Jamil Haddad.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Der Panter - Rainer Maria Rilke

Der Panther - Rainer Maria Rilke
        Im Jardin des Plantes, Paris

Sein Blick ist vom Vorübergehn der Stäbe
so müd geworden, dass er nichts mehr hält.
Ihm ist, als ob es tausend Stäbe gäbe
und hinter tausend Stäben keine Welt.

Der weiche Gang geschmeidig starker Schritte,
der sich im allerkleinsten Kreise dreht,
ist wie ein Tanz von Kraft um eine Mitte,
in der betäubt ein großer Wille steht.

Nur manchmal schiebt der Vorhang der Pupille
sich lautlos auf -. Dann geht ein Bild hinein,
geht durch der Glieder angespannte Stille -
und hört im Herzen auf zu sein.


A Pantera - Rainer Maria Rilke
            No Jardin des Plantes, Paris

O seu olhar, de tanto olhar as grades,
Já se cansou, e a nada mais se prende.
Como se ouvessem mil grandiosas grades
E atrás das grades nenhum mundo apreende.

A marcha branda de seu passo, dentro
De um círculo muito apertado gira,
Como uma dança de força em seu centro,
Uma grande vontade se aturdira.

Por vezes as cortinas da pupila
Silenciam. - Deixa a imagem, então,
Entrar nas articulações tranquilas -
E não mais ser no coração.

Trad: Raphael Soares

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Tradutores Paraenses II - Oswaldo Orico

É notavel que o Pará possui uma tradição artística bastante antiga e de qualidade, particularmente a tradição literária e musical. Possuimos músicos como Paulino Chaves, Meneleu Campos e Gama Malcher no nosso romantismo, além de termos alguns dos mais importantes representantes na música moderna como Jayme Ovalle e Waldemar Henrique, além de outros menos famosos mas de tanto mérito quanto, como Altino Pimenta e Wilson Fonseca.

Nossa tradição literária vem desde a era Neoclássica ou Árcade, com Tenreiro Aranha, nascido na cidade de Barcelos na província do Grão-Pará (hoje Amazonas) e passou sua vida em Belém. Desde então possuimos uma tradição riquissima de escritores como o Bruno Seabra (notável em seu tempo, hoje quase desconhecido), Inglês de Sousa (segundo alguns o legítimo fundador do naturalismo no Brasil) e José Veríssimo (que além de um dos primeiros críticos literários dessa terra foi também contista) no fim do século passado. Isso sem contar os notáveis deste século, que são tão numerosos que citar seria complicado, alguns mais conhecidos outros menos.

Entretanto, a prática da tradução neste estado não tem sido muito grande, ou ao menos não tem tido muito reconhecimento. Aí vou apresentar nesses quadros alguns tradutores de poesia nascidos ou criados no Pará. A primeira postagem recebe o número II porque, indiretamente, já foi postado um outro tradutor paraense anteriormente. Para conferir a postagem clique aqui.

Oswaldo Orico foi um dos poetas notáveis do século passado. Desde muito novo recebeu destaque nas letras regionais, assumindo uma vaga na Academia Paraense de Letras. Pertenceu a um grupo de poetas que exaltavam sua região e que ironicamente se radicaram no rio, grupo esse que pertenceu Peregrino Júnior e Eneida de Morais. No rio recebeu muito destaque literário ao ponto de assumir a cadeira fundada por Rui Barbosa da ABL. Fora sua participação em diversas outras academias. Escreveu inúmeros livros em prosa e verso.

Recentemente descobri que Oswaldo Orico também traduziu alguns versos, já que encontrei em um volume uma versão sua para o célebre soneto de Arvers, o Soneto Imitado do Italiano. Já fiz uma tradução dele aqui, onde pode conferir a tradução e o texto original.

SONETO - FELIX ARVERS
Guardo um segredo n'alma; existe em minha vida
Um mistério; este amor que não pude evitar.
Jamais lhe revelei esta paixão proibida.
Que para um mal sem cura o remédio é calar.

Andarei por aí, como sombra perdida,
Sem que imagine que a seu lado vim pousar,
E, que assim ficarei para o resto da vida,
Sem lhe pedir sequer a graça dum olhar;

Ela, que é toda amor e que é toda ternura,
Há de ser sempre a mesma insensível criatura
Indiferente à voz que vibra, onde ela está.

Escrava do dever, que a torna tão feliz,
Ainda dirá, lendo estes versos que lhe fiz:
"Que mulher será esta?" E não compreenderá.

Trad: Oswaldo Orico

O primeiro a se falar é que há mais de 100 traduções desse soneto, e a do Oswaldo Orico não é das melhores, contudo, não entra também entre as piores. Apresenta dezenas de problemas, e os mais gritantes talvez seja com o abuso de rimas verbais em "ar", e para piorar nos tercetos aparece mais uma rima verbal em "á". Isso desconsiderando o "dever que a torna feliz", e o paradoxo de ela ser "toda amor e toda ternura" ao mesmo tempo de ser "insensível criatura". O mal gosto do quinto e sexto versos não precisa nem de comentário. O alexandrino foi um pouco destruido, além do ritmo do poema e do acréscimo de enjambement no primeiro verso. Enfim, mas não é das piores, e talvez seja até melhor que a minha, que tem problemas sérios na rima em "ou".

Além de tradutor, Oswaldo Orico foi poeta bilíngue, e um poeta razoavelmente notável. Sinceramente acho que há na nossa terra outros melhores e talvez mais dignos, mas não desmereço a poesia de Orico. Para que não julguem o poeta por essa tradução, fecho o artigo com uma poesia do próprio:


O FERREIRO - Oswaldo Orico
Nunca pude esquecê-lo. Forte e belo,
aos olhos da saudade ele retorna,
desferindo, com o peso do martelo,
as sonoras pancadas na bigorna.

E quando, levantando as mãos, trabalha,
vejo no seu trabalho matutino
o aço corar de medo, na fornalha,
e o ferro obedecer como um menino.

E, na forja, o carvão, áspero e bruto,
soprando por um hálito possante,
trocar a negra túnica de luto
por fugitivas chispas de diamante.

Ao pé do fogo, olhando-te altaneiro,
uma pequena testemunha havia
que te ajudava, ó velho e bom ferreiro,
a ganhar o teu pão de cada dia.

Hoje são mudos a bigorna e o malho,
o ferro não tem sopro nem tem brilho,
mas a vontade santa do trabalho
canta na alma e no sangue de teu filho.

Chama de amor, humílima e opulenta,
vindo com ela, vou para onde vai.
É a têmpera da luz que me alimenta
e que eu trago da forja de meu pai.

terça-feira, 3 de abril de 2012

The Farmer's Wife - Anne Sexton

Uma amiga minha gostou da minha outra tradução de Anne Sexton (Depois de Auschwitz), e decidi traduzir outros poemas da autora. Esse é o The Farmers Wife, que conheci em excelente tradução do Jorge Wanderley, além de possuir outras traduções em português mais opu menos felizes.

The Farmer's Wife - Anne Sexton

From the hodge porridge
of their country lust,
their local life in Illinois,
where all their acres look
like a sprouting broom factory,
they name just en years now
that she has been his habit;
as again tonight he'll say
honey bunch let's go
and she will not say how there
must be more to living
than this brief bright bridge
of the raucous bed or even
the slow braille touch of him
like a heavy god grown light,
that old pantomime of love
that she wants although
it leaves her still alone,
built back again at last,
mind's apart from him, living
her own self in her own words
and hating the sweat of the house
they keep when they finally lie
each in separate dreams
and then how she watches him,
still strong in the blowzy bag
of his usual sleep while
her young years bungle past
their same marriage bed
and she wishes him cripple, or poet,
or even lonely, or sometimes,
better, my lover, dead.

A Mulher do Fazendeiro - Anne Sexton

Do caldo misturado
de sua terra de luxúria,
sua fria vida em Ilinois,
onde cada acre se apresenta
como uma fábrica de vassouras florescentes,
faz dez anos, dizem,
que ela se tornou o hábito dele;
essa noite ele dirá outra vez
“docinho, vem cá”
e ela não dirá quão mais
sua vida precisa para viver
que essa ponte pênsil e pequena
da barulhenta cama ou ainda
o lento toque em braile dele
como um deus pesado, leve tornado,
a velha pantonima do amor
que ela quer, não obstante
vai e deixa-a só,
e outra vez volta, enfim,
as duas mentes separadas, a dela vivendo
a si mesma em suas próprias palavras
adiando o suor da casa
que eles mantêm quando se deitam
juntos em sonhos separados
e o como ela o observa,
ainda forte num saco enchido
durante seu sono usual
seus áureos anos passam perdidos
nessa mesma cama de casal
e deseja-o aleijado, ou poeta,
ou apenas só, ou algumas vezes,
melhor, amor, morto.

Trad: Raphael Soares



Essa tradução tem algumas características peculiares. Procurei manter as assonâncias e aliterações na medida do possível, algumas vezes sem importar tanto com o lexico usado pela autora, mas sempre procurando manter o sentido global. Isso explica , por exemplo a "ponte pênsil e pequena" (brief bright bridge) ou os "áureos anos" (young years), entre outros. Sem mais comentários.