segunda-feira, 21 de maio de 2012

Herman Melville Poeta (An Epitaph)

Fui consultar o blog nãogostodeplágio, minha leitura blogística de cabeceira, e vim descobrir que Herman Melville - sim, o que escreveu Moby Dick - escreveu poesia, além de longas narrativas navais.

Conheço Melville só mesmo pela estória da baleiona, e ainda a li na versão espúria da Claret editora. Desnecessário dizer que odiei o livro, e fiquei muito surpreso de descobrir que o cara é poeta também. Descobri que escreveu um livro de poesias bélicas chamada "Battle-Pieces and Aspects of the War", e resolvi lê-lo. Parece que ninguém até hoje se atreveu a traduzir poesias de Melville, e não sem muita justiça. A poética dele é maçante (se Denise do nãogostodeplágio ler esse meu comentário vai discordar, sem dúvidas), e seu estilo me parece fraco, bem como a sonoridade meio afetada. Mas encontrei, dentro de um poema (The Eagle of the Blue) uns versos que me chamaram o interesse:

Aloft he guards the starry folds
  Who is the brother of the star;
The bird whose joy is in the wind
  Exultleth in the war.


No painted plume—a sober hue,
  His beauty is his power;
That eager calm of gaze intent
  Foresees the Sibyl's hour.


Que verti como:

Aquele que é o irmão da estrela
  Nos céus guarda o que é estrelado;
A ave cuja a alegria está
  No ar e em bélico fado.

Sem pluma falsa - um sóbrio tom,
  Beleza a força instila;
O seu olhar calmo e vidente
  Prevê a hora da sibila.


Desnecessário dizer (hoje estou para coisas desnecessárias) que a tradução não vale os versos, já que foi meio improvisada para esse post. No entanto, apesar de interessante, o poema não consegue manter essa beleza inicial, e fica um tanto artificial, o que não é propriamente uma desvantagem. O que importa é que não me deu a menor vontade de traduzir o poema todo. Quem sabe alguem não se habilita?

As outras poesias me desagradaram bastante. Não sei se posso recriminar a falta de tradução dos versos de Melville, já que acredito que a literatura nacional não ganharia muito com ela, no entanto, acho que todos deveriam ter o direito de ao menos conhecer. Quem sabe no futuro não temos uma antologia de poetas americanos com poesias de Melville? Ou quem sabe não teremos um livro de poesia deles aqui?

Li alguma coisa sobre o Melville poeta, e ao que parece, a critica prefere seus grandes poemas. Não tive saco de ler seu épico Clarel, que é imenso. Do livro Battle-Pieces, uma das maiores poesias não me impressionou nem um pouco, apesar de que, nesse caso, vejo algumas qualidades que não vi em outras poesias menores do livro. Muito interessante é, sobretudo estruturalmente, e é um dos poemas mais "Modernos" (como essa palavra perdeu o significado esses anos) do livro. Tematicamente também não deixa a desejar, apesar de ser quase que circustancial. Há momentos interessantes, como:

For lists of killed and wounded, see
The morrow's dispatch: to-day 'tis victory.

The man who read this to the crowd
  Shouted as the end he gained;
  And though the unflagging tempest rained,
    They answered him aloud.


Que tentei verter, sem sucesso, para:

Para ler dos mortos e feridos as histórias,
Confira o jornal de amanhã: hoje é vitória.

O homem que o lê à multidão
 Gritou sucesso ao fim;
 Choveu muito, mas ainda assim,
  Respondeu-lhe a multidão.


É muito difícil traduzir poesia quando não se identifica com o poeta e o poema, e ainda mais se traduzindo apressadamente, só para postar no blog. De qualquer modo, é ao menos um passo para alguem criticar e tentar fazer melhor.

Como não queria fazer um post inútil, vou postar aqui uma tradução de ao menos um poema completo, feito por mim. Esse poema é o mais curto do livro, mas é também o que talvez seja mais bem construído, ao meu ver. O poema narra em 8 linhas a fé de uma viuva de soldado, que ainda tem fé, após receber a notícia fúnebre. A tradução sofreu inúmeras perdas por diversos motivos. O metro um tanto adverso não favoreceu a tradução, e a riquesa monossílabica do inglês irrita qualquer tradutor. Perdi o "priest and people" vezes, simplificando-os para todos. Em geral pude seguir mais ou menos a ultraliteralidade que me é característica, mas tive de parafrasear muito o "(summering sweerly here,/In shade by waving beeches lent)". Houve algumas mudanças estruturais, como no antepenúltimo verso. Chega de blá-blá-blá, vamos ao poema:

An Epitaph - Herman Melville

When Sunday tidings from the front
  Made pale the priest and people,
And heavily the blessing went,
  And bells were dumb in the steeple;
The Soldier's widow (summering sweerly here,
  In shade by waving beeches lent)
  Felt deep at heart her faith content,
And priest and people borrowed of her cheer.



Um Epitáfio - Herman Melville

Chegam as novas do domingo
  Que empalidecem a todos,
Dura a benção é,
  E os sinos ficam mudos;
A viuva do soldado (em certo dia
  Quente, em sombra, abanando seu libré)
  Vi que era profunda sua fé
E todos tomavam sua alegria.

Trad: Raphael Soares

Gostaria de pedir desculpas pela má tradução, outra vez, mas se até Péricles Eugênio, Augusto de Campos e Ivo Barroso, que são meus deuses vivos na arte tradutória de poesia (PE nem tão vivo assim) já erraram ou fizeram algo infeliz em questão de tradução, posso me permitir esse luxo de vez em quando.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Das Ständchen - Ludwig Uhland

Hoje posto a tradução de um poeta alemão de uma subdivisão do romantismo alemão: o grupo dos suábios. Uhland é mais conhecido por suas baladas (várias musicadas por Loewe, por exemplo) e pelo poema Der gute Kamerad, um dos hinos das forças armadas da alemanha. Esse poema não é inédito em língua portuguesa, e, para falar a verdade, o li primeiramente em português. O poema é de uma simplicidade adorável, porém não é, como o resto da obra do autor, absolutamente genial ou incrível. O texto em alemão usado para a tradução foi tirado da Antologia organizada por Geir Campos, mas procurei traduzir sem olhar a tradução anterior, sob alguns aspectos questionável. Segue a poesia.


Das Ständchen - Ludwig Uhland

Was wecken aus dem Schlummer mich
  für süße Klänge doch?
O Mutter, sieh, wer mag es sein
  in später Stunde noch.

„Ich höre nichts, ich sehe nichts,
  o schlummre fort so lind!
Man bringt dir keine Ständchen jetzt,
  du armes krankes Kind."


Es ist nicht irdische Musik,
  was mich so freudig macht,
mich rufen Engel mit Gesang,
  o Mutter, gute Nacht.

A Serenata – Ludwig Uhland

O que acorda-me da soneca
  Para esses sons ouvir?
Mãe, vê! Quem ainda pode ser
  E em tardas horas vir?

„Não ouço nada, nada vejo.
  O sono foi-se embora!
Serenata alguma a ti trazem,
  Criança enferma, agora!”


Não é a música mortal,
  Que faz-se com açoite:
Os anjos chamam-me cantando.
  Oh, mamãe, boa noite!

Trad: Raphael Soares