terça-feira, 31 de julho de 2012

Un vieux pays - Machado de Assis

Hoje posto uma poesia do nosso grande Machado de Assis. Machado escreveu apenas duas poesias em francês, e essa, de matiz baudelairiano (talvez único em sua poesia) é uma delas. Não é inédita em português, já que o próprio Machado nos apresenta em Phalenas uma tradução de um terceiro, de qualidade um tanto questionável, apesar dos elogios do próprio autor (sabemos que Machado não era econômico em elogiar conhecidos... basta consultarem a crítica que faz do Cenas da Vida Amazônica de Veríssimo). Não é a melhor poesia Machadiana, mas também não é desprezível no conjunto de sua obra.

UN VIEUX PAYS - Machado de Assis
...juntamente choro e rio.
Camões, soneto

Il est un vieux pays, plein d’ombre et de lumière,
On l’on rêve le jour, où l’on pleure le soir;
Un pays de blasphème, autant que de prière,
Nè pour le doute e pour l’espoir.

On n’y voit point de fleurs sans un ver qui les ronge
Point de mer sans tempête, ou de soleil sans nuit;
Le bonheur y parait quelquefois dans un songe
Entre le bras du sombre ennui.

L’amour y va souvent, mais c’est tout un délire,
Un désespoir sans fin, une énigme sans mot;
Parfois il rit gaîment, mais de cet affreux rire
Qui n’est peut-être qu’un sanglot.

On va dans ce pays de misère et d’ivresse,
Mais on le voit à peine, on en sort, on a peur;
Je l’habite pourtant, j’y passe ma jeunesse...
Hélas! ce pays, c’est mon coeur.



UM VELHO PAÍS – MACHADO DE ASSIS
...juntamente choro e rio.
            Camões

Este é um país pleno de luz e treva,
Alguém sonha de dia, e à tarde se lamenta;
Um país de blasfêmia e de oração sincera,
   Nata da esp’rança e da tormenta.

Onde não se vê a flor sem um verme a roendo,
O sol sem noite, e o mar sem qualquer tempestade;
Se a alegria, uma vez, em sonho aparecendo
   Em umbro braço o tédio invade.

O amor é bem frequente, e é, de fato, um delírio,
Um desespero infindo, um enigma sem termos;
Às vezes ri-se alegre, às vezes esse riso
   Não passa de um soluçar ermo.

Vive-se num país de miséria e ebriedade,
Mas o vêem com pena, ou em fado, ou temor;
Nele habitei e passei a minha mocidade...
   Oh!  Esta terra é meu amor.

Trad: Raphael Soares