sábado, 28 de fevereiro de 2015

William Stevenson or John Still [atrib.] - Jolly Good Ale And Old

Encerrando o mês das cervejas sem muitas publicações: os excessos do carnaval não me permitiram dedicar muito tempo ao blog, e o inicio das atividades do mestrado devem manter-me um pouco afastado. De qualquer modo, compenso com mais um poema sobre esse néctar dos deuses que é a cerveja, que povoou toda a literatura do ocidente e do oriente, dos persas e sumérios até os dias de hoje. "Jolly Good Ale and Old" é considerado uma das melhores e mais populares canções sobre cerveja da literatura inglesa, e um dos fragmentos teatrais pré-elizabetanos mais famosos.

O poema traduzido faz parte de uma antiga comédia inglesa chamada "Gammer Gurton's Needle", que é considerada a segunda mais antiga comédia escrita no idioma inglês (a primeira seria Ralph Roister Doister, ao menos segundo a Wikipédia, já que meus dois livros de literatura inglesa sequer falam de qualquer uma das duas peças). É a canção que abre o segundo ato da peça, que foi publicada anonimamente e só muito mais tarde foi atribuída a "Mr S. Mr of Art" do Christ's College, Cambridge. Durante bastante tempo o escritor John Still foi identificado como autor por ser o único mestre em artes com nome iniciado em "S", mas algum tempo depois encontrou-se o nome de William Stevenson, que também tornou-se sacerdote, e era reputado como autor de peças, embora não haja nada que o ligue nominalmente a "Gamer Gurton's Needle". É portanto Stevenson e Still as mais sólidas atribuições de autoria desse poema, já que o terceiro candidato, Dr John Bridges, dificilmente poderia ser descrito como "Mr S", bem como adquiriu seu mestrado em outra instituição. De qualquer modo, prefiro a atribuição dupla a atribuir o texto como sendo de Anônimo (esse carinha que fez obras magníficas em várias línguas e tem uma longevidade fascinante... deviam fazer uma antologia poética de suas obras), que já tem muitas obras espúrias dadas em seu nome. De qualquer modo, não temos a menor certeza das atribuições de obras da antiguidade e ainda continuamos atribuindo a seus autores tradicionais, então não vejo porque não atribuir o texto ou a Stevenson ou a Still. De qualquer modo, vamos ao texto.

(a peça inteira, em inglês antigo pode ser encontrada aqui: https://play.google.com/store/books/details?id=3IRKAAAAYAAJ&rdid=book-3IRKAAAAYAAJ&rdot=1 a versão que me utilizo possui a grafia atualizada, e é de antologia)



Jolly Good Ale and Old - Willian Stevenson ou John Still

      Back and side go bare, go bare;
      Both foot and hand go cold;
      But, belly, God send thee good ale enough,
      Whether it be new or old.

I CANNOT eat but little meat,
  My stomach is not good;
But sure I think that I can drink
  With him that wears a hood.
Though I go bare, take ye no care,
  I nothing am a-cold;
I stuff my skin so full within
  Of jolly good ale and old.
      Back and side go bare, go bare;
      Both foot and hand go cold;
      But, belly, God send thee good ale enough,
      Whether it be new or old.

I love no roast but a nut-brown toast,
  And a crab laid in the fire;
A little bread shall do me stead;
  Much bread I not desire.
No frost nor snow, no wind, I trow,
  Can hurt me if I wold;
I am so wrapp’d and thoroughly lapp’d
  Of jolly good ale and old.
      Back and side go bare, go bare, &c.

And Tib, my wife, that as her life
  Loveth well good ale to seek,
Full oft drinks she till ye may see
  The tears run down her cheek:
Then doth she trowl to me the bowl
  Even as a maltworm should,
And saith, ‘Sweetheart, I took my part
  Of this jolly good ale and old.’
      Back and side go bare, go bare, &c.

Now let them drink till they nod and wink,
  Even as good fellows should do;
They shall not miss to have the bliss
  Good ale doth bring men to;
And all poor souls that have scour’d bowls
  Or have them lustily troll’d,
God save the lives of them and their wives,
  Whether they be young or old.
      Back and side go bare, go bare;
      Both foot and hand go cold;
      But, belly, God send thee good ale enough,
      Whether it be new or old.


Boa e Velha Cerveja - William Stevenson ou John Still

      Vamos, vamos, desregrados;
      Gelados os pés e as mãos;
      Não importa, se Deus mandar cerveja,
      Nova ou velha, tomamos!

Não posso comer u'a carne sequer
  Meu estômago vai mal;
Mas estou a crer que posso beber
  Com ele, de capuz tal.
E vou desregrado, nenhum cuidado
  Não estou gelado, veja!
Preencherei, insisto, a mi'a pele co'isto:
  A boa e velha cerveja.
      Vamos, vamos, desregrados;
      Gelados os pés e as mãos;
      Não importa, se Deus mandar cerveja,
      Nova ou velha, tomamos!

Não quero assado, mas torrada,
  E um siri no fogão;
Algum pão servir então;
  Não quero tanto pão.
Sem gelo, vento ou neve, penso,
  Ferirei-me? Que seja!
Me envolve a mente, e completamente,
  A boa e velha cerveja.
      Vamos, vamos, desregrados.

E Tib, minha esposa querida,
  Cervejas tem procurado,
Faz, por vezes, drinques, pois vejas
  Lágrimas no rosto amado:
Quando ela passa e serve uma taça
  Como um porre deseja,
E diz, destarte: - Amor, peguei minha parte
  Dessa boa e velha cerveja. -
      Vamos, vamos, desregrados.

Pois deixe-os tomar, 'té cumprimentar,
  Como os manos devem fazer;
E será verdade, a felicidade
  Que a cerveja vem trazer;
E as taças as almas, buscando com calma
  Ou as têm sob controle,
Deus salve suas vidas, também suas queridas,
  Se jovens ou senhores.
      Vamos, vamos, desregrados;
      Gelados os pés e as mãos;
      Não importa, se Deus mandar cerveja,
      Nova ou velha, tomamos!

Trad: Raphael Soares

sábado, 21 de fevereiro de 2015

Joyce Kilmer - Trees e uma paródia: Beers.

Hoje passo aqui bem rápido. O carnaval acabou me impedindo de publicar dia 10, e ainda tive os preparativos da viagem. Hoje, especial para o carnaval posto um poema famosíssimo de Joyce Kilmer, que ao lado de The Raven de Poe e The Road not Taken de Robert Frost, é um dos poemas mais famosos escrito por um norte americano. E uma paródia clássica e anônima dele, que fala sobre a Cerveja.


Trees - Joyce Kilmer

I think that I shall never see
A poem lovely as a tree.
A tree whose hungry mouth is prest
Against the earth's sweet flowing breast;
A tree that looks at God all day,
And lifts her leafy arms to pray;
A tree that may in Summer wear
A nest of robins in her hair;
Upon whose bosom snow has lain;
Who intimately lives with rain.
Poems are made by fools like me,
But only God can make a tree.



Beers, a spoof of Joyce Kilmer’s Trees - Anon

I think that I shall never hear
A poem lovely as a beer.
A brew that’s best straight from a tap
With golden hue and snowy cap;
The liquid bread I drink all day,
Until my memory melts away;
A beer that’s made with summer malt
Too little hops its only fault;
Upon whose brow the yeast has lain;
In water clear as falling rain.
Poems are made by fools I fear,
But only wort can make a beer.


Árvores - Joyce Kilmer

Eu penso que não há quem veja
Verso que qual árvore graceja.
Árvore que põe sua faminta
Boca a beber a terra infinda;
Árvore, a Deus todo dia,
Levanta as mãos e louvaria;
Árvore que no árido estio
Um ninho de melros construiu;
Sobre seu seio a neve jaz;
Vivendo co'a chuva que cai.
Tolos fazem versos, mas veja
Que só Deus uma árvore enseja.

Trad: Raphael Soares


Cervejas, uma paródia de Árvores de Joyce Kilmer’s

Eu penso que não há quem veja
Um verso amável qual cerveja.
Breja direto da torneira,
De áureo tom, também nívea beira;
Pão líquido de todo dia,
Até que a mente se esvazia;
Cerveja com malte do estio,
Pouco lúpulo, oh desvio!;
Sobre ela o fermento jaz;
Com água qual da chuva que cai.
Tolos fazem versos, mas veja
Que só o mosto faz cerveja.

Trad: Raphael Soares