Recentemente me deparei com uma grande pergunta: Qual é o poema mais traduzido em língua portuguesa?
Como há pouquíssimas pesquisas bibliográficas de poesia no Brasil, difícil saber a resposta, já que não é facil para mim que moro num lugar tão tão distante ter acesso à informações bibliográficas precisas, isso desconsiderando as traduções feitas em periódicos de pouquíssimo alcance. Com os recursos que disponho, procurei na internet mesmo e em meu pequeno (mesmo) acervo. Eis alguns poemas extremamente traduzidos para a nossa língua:
Emily Dickinson - 449 (na numeração de Johnson)
Graças ao site sobre Emily Dickinson da Unesp (link aqui) que contem o maior levantamento sobre Dickinson no Brasil, podemos ver que o poema mais traduzido (não é surpresa) é o "I died for Beauty". Possui, segundo o site, 21 traduções respectivamente de Manuel Bandeira, Cecília Meireles, Olívia Krähenbühl, Nise Martins Laurindo, Vera das Neves Pedroso, Carolina Matos, Jorge de Sena, Jorge Wanderley, Aíla de Oliveira Gomes, Idelma Ribeiro de Faria, José Lino Grünewald, Helena Alvim Ameno, Zelita Seabra, Isa Mara Lando, Lucia Olinto, Nuno Júdice, Ivo Bender, António Simões, Fernanda Mourão e Augusto de Campos. Aparentemente, o site desconsidera a tradução de Ivo Barroso.
Todas essas traduções podem ser encontradas no site.
Edgar Allan Poe - The Raven
Já falei sobre esse em um post anterior. Possui pouco mais de 30 traduções em português, além de uma série de traduções parciais, paródias, imitações e poemas inspirados. No site do Elson Fróes (link aqui) pode-se ler praticamente todas.
Blake - The Tyger
Esse para mim foi surpresa. Não esperava que esse poema tivesse tantas traduções. Numa pesquisa rápida, pouco exaustiva e com muitas falhas, encontrei 20 traduções do poema. 13 traduções são rimadas e metrificadas (segue o nome do tradutor mais a primeira linha, para fácil consulta):
Alex Raymundo (Tigre! Tigre! chama luminosa)
Augusto de Campos (Tygre! Tygre! Brilho, brasa)
Joedson Adriano (Tygre Tygre, Brilhante brasido)
Jorge Vilhena Mesquita (Tigre! Tigre! flamejando)
Jorge de Sena (Tigre, tigre, ardendo aceso)
José Paulo Paes (Tygre, Tygre, viva chama)
Ivo Barroso (Tigre! Tigre! tocha tesa)
Nagib Anderáos Neto (Tigre, tigre, brilho ardente)
Paulo Hecker Filho (Tigre, tigre, luz que cresta)
Paulo Vizioli (Tigre, tigre, flamante fulgor)
Renato Suttana (Tigre! Tigre! clarão feroz )
Sidnei Schneider (Tigre! Tigre, ardendo grave)
Vasco Graça Moura (Tigre, tigre, chama pura)
Há ainda mais 4 traduções não rimadas ou metrificadas:
Ângelo Monteiro (Tigre, tigre que flamejas)
Cunha e Silva Filho (Tigre! Tigre! luz queimando)
Luiz Felipe Coelho (Tigre! Tigre! brilhando intenso)
Shironaya [pseud] (Tigre, tigre, brilho incandescente)
E mais 3 traduções encontradas na internet sem indicação de autoria, mas provavelmente feitas pelo dono do blog ou perfil (clique para acessar):
(Tigre! Tigre! Luz brilhante)
(Tigre! Tigre! Flamejante brilho)
(Tigre, Tigre, ardendo luminoso)
Ao meu ver, de todas as traduções a melhor é a de Augusto de Campos.
Goethe - Der König in Thule
Apesar de Erlkönig ser, sem dúvida, o poema mais traduzido de Goethe, em português, ao que me parece, o poema mais traduzido é A Canção do Rei de Tule. Segundo a revista Estudos Vol.II há mais de 30 versões portuguesas do poema (das quais eu conheço apenas 7). Acrescente a esses a versão de Marcus Mazzari. Não sei de traduções brasileiras do poema.
Shakespeare - Soneto XXIX
Para a minha surpresa, o soneto mais traduzido de Shakespeare é o de nº 29. Não é o 15º, nem o 18º, nem o 23º nem o 116º, mas o 29º. Traduziram esse soneto no Brasil (em ordem cronológica) Péricles Eugênio Silva Ramos, Samuel Mac Dowell Filho, Ana Amélia Carneiro de Mendonça, Heitor P. Fróes, J.G.de Araújo Jorge, Ivo Barroso, Décio Pignatari e Lázaro Barreto. Além desses, os que traduziram integralmente os sonetos também traduziram o 29º, ou seja: Jerónimo de Aquino, Oscar Mendes, Jorge Wanderley, Marcos Beltrão Frederico, Milton Lins e Thereza Christina Rocque da Motta. Traduções portuguesas temos a de Carlos de Oliveira, Maria do Céu Saraiva Jorge, Ênio Ramalho e Vasco Graça Moura. Totaliza então 18 traduções do poema, isso desconsiderando as traduções de Barbara Heliodora (que provavelmente traduziu esse soneto, mas que não pude conferir), Maria Margarida Acedo (idem) e Renato Marques de Oliveira (que é quase igual a tradução de J.G. de Araújo Jorge).
Também há Baudelaire, que é um dos poetas mais traduzidos no Brasil. Apesar de possuir vários estudos bibliográficos, não tive paciência de contar as traduções do poeta, mas suponho que o poema mais traduzido do poeta seja Correspondences ou L’Homme et la Mer.
Se possível, ajudem a preencher esse vazio, postando poesias que foram traduzidas para o português mais de 20 vezes.
Informação adicionada em 08/09/11: Guilherme de Almeida traduziu também a Canção do Rei de Tule... posteriormente falo sobre esse poema...
O Poema I Died for Beauty também foi traduzido no Brasil por Adriandos Delima, e pode ser lido aqui. Com isso são 23 traduções que consigo contar.
Olá caro amigo!
ResponderExcluirPoderias me indicar boas traduções para o português da obra de Robbie Burns? Uma que seja, legível ao menos.
Também preciso de indicações para começo de Coleridge e Browning (deste, uma do Pippa Passes).
Meu inglês ainda vai muito mal da pernas, por isso preciso recorrer à edições bílingues (creio que seja um bom caminho)pelos poucos sebos de minha cidadezinha.
Ficaria entusiasticamente agradecido pelo "conselho literário".
Gracias!
Não conheço nenhuma pradução de Robbie Burns, mas com um pouco de pesquisa só encontrei a tradução de Luiza Lobo. Não sei se é boa, mas me parece ser a única.
ResponderExcluirNão sou muito fã desses poetas, e o pouco que li deles foi em tradução de Paulo Vizioli. Paulo Vizioli fez várias antologias, e acho interessante começar por elas. Outro poeta que também provavelmente traduziu ambos em suas antologias é Jorge Wanderley.
Faltou a minha de O Tigre:
ResponderExcluirO Tigre (William Blake)
Tradução: Roberto Denser
TIGRE, tigre, brilhante brasa
Na negridão da mata
Que olho ou mão imortal poderia
conceber tua feroz simetria?
Em que abismos ou céus distantes
Brilhou teu olhar flamejante?
Com que asa ousas tu flutuar?
Com que mão ousas ao fogo tomar?
E que ombro e que arte
Causaria em teu peito um enfarte?
E quando batesse o teu coração,
que pavoroso pé e pavorosa mão?
Que cadeia? que martelo?
Em que forno esteve teu cérebro?
Que bigorna? Que força terrível
Dominou teu terror imbatível?
Quando as estrelas jogaram seu brilho,
E deixaram o céu comovido,
Ele sorriu ao ver Seu trabalho?
Ele que fez a ti e ao agno?
Tigre, tigre, brilhante brasa
Na negridão da mata
Que olho ou mão imortal poderia
conceber tua feroz simetria?
Obrigado pela colaboração.
Excluirsobre a tradução de campos http://sibila.com.br/critica/a-ovelha-e-o-tigre-a-traducao-de-blake-por-augusto-de-campos/5218
ResponderExcluirRaphael, o Alípio Correia Neto e o John Milton também traduziram esse do Blake. Depois eu te passo! Ótima postagem. Intrigante...
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