segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Mais Goethe parte II - Homenagem a Guilherme de Almeida

Resolvi fazer uma pequena homenagem ao grande poeta e tradutor que foi Guilherme de Almeida. Eis aqui o famoso poema Der König in Thule de Goethe em tradução do grande poeta, seguida da minha tradução.


Goethe - Der König in Thule

Es war ein König in Thule,
Gar treu bis an das Grab,
Dem sterbend seine Buhle
Einen goldnen Becher gab.

Es ging ihm nichts darüber,
Er leert' ihn jeden Schmaus;
Die Augen gingen ihm über,
So oft er trank daraus.

Und als er kam zu sterben,
Zählt' er seine Städt' im Reich,
Gönnt' alles seinem Erben,
Den Becher nicht zugleich.

Er saß beim Königsmahle,
Die Ritter um ihn her,
Auf hohem Vätersaale,
Dort auf dem Schloß am Meer.

Dort stand der alte Zecher,
Trank letzte Lebensglut,
Und warf den heil'gen Becher
Hinunter in die Flut.

Er sah ihn stürzen, trinken
Und sinken tief ins Meer.
Die Augen täten ihm sinken
Trank nie einen Tropfen mehr.


Canção do Rei de Thule - Goethe

Houve um rei de Thule que era
mais fiel do que nenhum rei.
A amante, ao morrer, lhe dera
um copo de oiro de lei

Era o bem que mais prezava
e mais gostava de usar:
e quando mais o esvaziava
mais enchia de água o olhar.

Quando sentiu que morria,
o seu reino inventariou,
e tudo quanto possuía,
menos o copo, doou.

Depois, sentando-se à mesa,
fez os vassalos chamar
à sala de mais nobreza
do castelo, sobre o mar.

E ele ergue-se acabrunhado,
bebe o último gole então
e atira o copo sagrado
às ondas que em baixo estão.

Viu-o flutuar e afundar-se,
que o mar o encheu de seus ais.
Sentiu a vista enevoar-se:
E não bebeu nunca mais!

Trad: Guilherme de Almeida


O Rei de Tule - Goethe

Em Tule vivia um rei,
Que, fiel, a sua dama,
Uma taça de ouro em lei
Deixou-lhe na eterna cama.

Nada mais amava tanto,
E em cada festa a esvaziava;
Cada gole um novo pranto,
Sobre a taça lagrimava.

Quando sentiu vir a morte.
Todo seu reino cortou
Para os filhos, sul ao norte,
Mas a taça não doou.

E em sua mesa real,
Cavaleiros fez chamar,
Ao mais nobre e antigo Hall,
De seu paço sobre o mar.

Lá ergue-se o bebedor,
Bebe o gole derradeiro,
A sacra taça, co'amor,
Atira à água, ligeiro.

Viu-a boiar e se encher,
E ao mar descer ainda mais.
Sentiu a vista escurecer
E não bebeu nunca mais.

Trad: Raphael Soares



Como pode ser percebido, não tinha a menor intenção de superar a tradução de Guilherme. Também pode-se perceber que foi uma tradução meio improvisada (sendo que a primeira quadra traduzi há tempos), e tive a própria tradução do Guilherme como uma base (o que explica algumas semelhanças, mas nunca procurei imitar o poeta).

Enfim, mais uma velha e uma nova tradução desse querido poema de nosso querido poeta.

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