segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Mais Goethe parte I - Um Rei dos Álamos pouco conhecido

Estive sumido por um tempo, é verdade... estive um tanto desocupado e acabei não  postando nada nos últimos dias, apesar de ter feito um número razoável de traduções (a maioria do alemão, tendo inclusive autores novos), hoje irei postar uma tradução que não é minha!!! Acabei achando por acaso esse poema numa revista antiquíssima e de divulgação restrita (Revista de Cultura do Pará), e achei importantíssimo compartilhar (caso o detentor dos direitos se sinta ofendido ou lesado, retirarei com todo o prazer, mas acho que estou prestando uma homenagem ao tradutor sem lesar seus direitos). Trata-se do afamado Der Erlkönig de Goethe que já foi traduzido por mim aqui e comentado aqui. Contando duas traduções portuguesas facilmente acháveis na internet, mais a tradução brasileira disponível em Poesia Alemã (organizada por Geir Campos), mas as traduções em verso livre que comentei no post anterior sobre o mesmo tema, possuimos mais uma tradução desse belíssimo poema, feita pelo escritor paraense Sílvio Meira em tradução poética. Vamos ao que interessa, o poema acrescido dos comentários ao final (sei que prometi falar do rei de Tule do Guilherme de Almeida, mas isso fica para a parte II).



O Rei dos Alamos

Quem viaja tão tarde, à noite, e com esse vento?
É o pai com o filhinho, a cavalo, ao relento,
Aconchega o menino, abraçado com amor,
Segura-o com força, aquece-o em seu calor.

“­- Meu filho porque tens tal pavor em teu rosto?”
“­- Não vês, oh pai, o Rei dos Álamos exposto?”
Dos Álamos o Rei, com seu manto e corôa?”
“­- Meu filho é um nevoeiro que além sobrevoa”.

“­- Tu, querido nenê, vens comigo! depois
Belíssimos brinquedos divertirão a nós dois;
Na praia brotam flores, matizes variados,
E minha mãe possui muitos mantos dourados.”

“­- Meu pai, oh meu paizinho, não ouves, de repente,
O que promete o Rei, agora: docemente?”
“­- Silencio, minha criança, acalma-te um momento,
Nas folhas ressequidas rumoreja o vento.”

“­- Queres, meu bom menino, queres comigo vir?
Minhas filhas irão com prazer te servir”.
Minhas filhas promovem à noite linda dança,
Vão ninar-te e dançar e cantar sem tardança”.

“­- Meu pai, meu pai, não vês, muito além, divertidas,
As filhinhas do Rei num recanto escondidas?”
“­- Meu filho, meu filhinho, entrevejo nevoentos,
Parecem-me os salgueiros velhos e cinzentos”.

“­- Eu te adoro, e me encanta e seduz teu rostinho;
Se não desejas vir te arranco, sê bonzinho.”
“­- Meu pai, oh meu paizinho, agora me agarrou;
Dos Álamos o rei me feriu, maltratou”.

Apavora-se o pai, apressa, segue avante;
Aconchega nos braços a criança arquejante;
A casa alcança enfim, com esforços e cansaços,
O filho estava morto, inerme, nos seus braços.

Trad: Sílvio Meira (Original e minha tradução Aqui)



A tradução, em geral, é boa. A primeira estrofe é um tanto previsível, e aparentemente foi feita sem esforço. Como as outras traduções poéticas que conheço, Nebelstreif acabou virando Nevoeiro, enquanto que é apenas um pouco de névoa (que forma a imagem que o menino vê). Claro, não vou cometer a prepotência de dizer que "de névoa um metro" é a solução adequada. Acho que a solução de Silvio Meira foi melhor que a minha.

Falando de soluções acertadas, não posso deixar de citar "In dürren Blättern säuselt der Wind" que foi muito bem vertido para "Nas folhas ressequidas rumoreja o vento", ou "genau:/Es scheinen die alten Weiden so grau" vertido para "nevoentos,/Parecem-me os salgueiros velhos e cinzentos" e principalmente o último verso "In seinen Armen das Kind war tot" que virou "O filho estava morto, inerme, nos seus braços" (comparar com as minhas opções:  "São folhas secas na eólia alma"; "filho:/De velhos salgueiros cinzas o brilho" e "Co’o filho inerte, por morto dado"). Os dois substantivos que omiti (Säuselt e Leids) não foram omitidos nessa tradução.

Entretanto (tentando me defender um pouco), essa tradução não está insenta de seus problemas. A forma como o filho e o pai falam entre si parece pouco natural (apesar de fazer algo parecido ao menos uma vez). O maior problema talvez seja a quantidade significativa de acréscimos e algumas palavras um tanto forçadas para formar as rimas (destaco dança/tardança e rosto/exposto).

Enfim, a tradução de meu conterrâneo Silvio Meira acaba sendo bastante interessante, principalmente para acrescentar mais uma tradução às traduções desse magnífico poema alemão, que merece, sem sombra de dúvidas, falar fluentemente como um magnífico poema em língua portuguesa.

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