quinta-feira, 14 de julho de 2011

3 Poetisas de Língua Inglesa: Dickinson, Plath e Sexton

Aqui mais 3 traduçoes, mas antes delas um pedido de desculpas:

A falta da qualidade dessas traduções decorre da minha incompreensão da poética das autoras. Foi uma tentativa quase misstranslation. Por sorte há muitas, e competentes, traduções de Dickinson e Plath, apesar de Sexton ser pouco traduzida no brasil.

Seguem as traduções:



712 - Dickinson

Because I could not stop for Death,
He kindly stopped for me;
The carriage held but just ourselves
And Immortality.

We slowly drove, he knew no haste,
And I had put away
My labor, and my leisure too,
For his civility.

We passed the school, where children strove
At recess, in the ring;
We passed the fields of gazing grain,
We passed the setting sun.

Or rather, he passed us;
The dews grew quivering and chill,
For only gossamer my gown,
My tippet only tulle.

We paused before a house that seemed
A swelling of the ground;
The roof was scarcely visible,
The cornice but a mound.

Since then 'tis centuries, and yet each
Feels shorter than the day
I first surmised the horses' heads
Were toward eternity.


18 April - Plath

the slime of all my yesterdays
rots in the hollow of my skull

and if my stomach would contract
because of some explicable phenomenon
such as pregnancy or constipation

I would not remember you

or that because of sleep
infrequent as a moon of greencheese
that because of food
nourishing as violet leaves
that because of these

and in a few fatal yards of grass
in a few spaces of sky and treetops

a future was lost yesterday
as easily and irretrievably
as a tennis ball at twilight


After Auschwitz - Anne Sexton

Anger,
as black as a hook,
overtakes me.
Each day,
each Nazi
took, at 8: 00 A.M., a baby
and sauteed him for breakfast
in his frying pan.

And death looks on with a casual eye
and picks at the dirt under his fingernail.

Man is evil,
I say aloud.
Man is a flower
that should be burnt,
I say aloud.
Man
is a bird full of mud,
I say aloud.

And death looks on with a casual eye
and scratches his anus.

Man with his small pink toes,
with his miraculous fingers
is not a temple
but an outhouse,
I say aloud.
Let man never again raise his teacup.
Let man never again write a book.
Let man never again put on his shoe.
Let man never again raise his eyes,
on a soft July night.
Never. Never. Never. Never. Never.
I say those things aloud.

I beg the Lord not to hear.



Dickinson – 712 (numeração de Johnson)

Porque não pude parar para a Morte -
Ela, gentil, parou para mim –
A Carruagem levou Nós duas -
E a Imortalidade.

E lento fomos – Nenhuma pressa
E eu deixei de lado
Meu trabalho e indolência
Por sua Cortesia –

Passamos em frente à Escola, onde as Crianças
Brincavam - no intervalo –
Passamos pelos Campos de Trigos Maduros –
Passamos pelo ocaso –

Ou melhor – Ele passou por Nós –
E o Frio esfriava e me gelava –
Meu Vestido somente de Gaze –
E só de Tule minha capa –

Paramos ante uma Casa, semelhante
A um relevo no chão -
Mal se via o Telhado –
A Cornija - no chão –

Desde então – Séculos passaram –
Cada um mais curto que um Dia
Pela primeira vez vi que os cavalos
Rumavam para a eternidade.


Plath – 18 de Abril

a lama de todos os meus ontens
apodrecem no vácuo de meu crânio

e caso o meu estômago se contrair
devido algum fenômeno explicável
como gravidez ou constipação

eu não lembro de você

ou que por causa do sono
infrequente como a lua de queijo
que por causa da comida
é nutritiva como folhas de violeta
que por causa dela

e em poucas jardas fatais de grama
em poucos espaços dos céus e das copas

um futuro estava perdido ontem
tão facilmente e irremediavelmente
como uma bola de tênis no ocaso


Anne Sexton – Depois de Auschwitz

A raiva,
tão negra como um gancho,
vence-me.
Cada dia,
cada Nazista
pega, às 8:00 da manhã, um bebê
e o refoga na sua frigideira
para o café da manhã.

E a morte olha com um olhar casual
e pega a sujeira abaixo da unha.

O homem é mau,
eu grito.
O homem é uma flor
que deve-se queimar,
eu grito.
O homem
é um pássaro enlameado,
eu grito.

E a morte olha com um olhar casual
e coça o anus.

O homem com seus róseos pés,
com seus dedos milagrosos
não é um tempo
mas um casebre,
eu grito.
Que o homem nunca mais erga sua xícara de chá.
Que o homem nunca mais escreva um livro.
Que o homem nunca mais calce seus sapatos.
Que o homem nunca mais abra seus olhos,
na fina noite de julho.
Nunca. Nunca. Nunca. Nunca. Nunca.
Eu grito essas coisas.

Oro ao Senhor que não ouça.

domingo, 10 de julho de 2011

Tyger - Blake

The Tyger - William Blake

Tyger! Tyger! burning bright
In the forests of the night,
What immortal hand or eye
Could frame thy fearful symmetry?

In what distant deeps or skies
Burnt the fire of thine eyes?
On what wings dare he aspire?
What the hand dare sieze the fire?

And what shoulder, & what art.
Could twist the sinews of thy heart?
And when thy heart began to beat,
What dread hand? & what dread feet?

What the hammer? what the chain?
In what furnace was thy brain?
What the anvil? what dread grasp
Dare its deadly terrors clasp?

When the stars threw down their spears,
And watered heaven with their tears,
Did he smile his work to see?
Did he who made the Lamb make thee?

Tyger! Tyger! burning bright
In the forests of the night,
What immortal hand or eye
Dare frame thy fearful symmetry?



Tygre – William Blake

Tygre, Tygre, brilho & brasa
Que a flora noturna abraça,
Que mão com tal maestria,
Moldou a tua simetria?

Qual remoto céu ou abrolhos
Forjou o fogo dos teus olhos?
Que asa atreveu-se a alçar-te?
Qual mão içou o ardor destarte?

Quais ombros, & qual ação,
Fez tendões do coração?
E quando o coração pulsa,
Que pés & mãos de repulsa?

Que martelo? Que corrente?
Que fornalha fez tua mente?
Que bigorna? Que poder
Pôde o teu terror tecer?

Quando os astros clarões tantos
Lançaram, caiu o céu em prantos,
Sorriu Ele da façanha?
Fez o Anho & a ti a mesma sanha?

Tygre, Tygre, brilho & brasa
Que a flora noturna abraça,
Que mão com tal maestria,
Forjou a tua simetria?

Trad: Raphael Soares



Não resisti. Mesmo sabendo que há mais de 20 traduções portuguesas deste poema, resolvi fazer minha própria versão. Fazer o quê?

terça-feira, 5 de julho de 2011

La Beauté - Charles Baudelaire

La Beauté - Charles Baudelaire

Je suis belle, ô mortels! comme un rêve de pierre,
Et mon sein, où chacun s'est meurtri tour à tour,
Est fait pour inspirer au poète un amour
Eternel et muet ainsi que la matière.

Je trône dans l'azur comme un sphinx incompris;
J'unis un coeur de neige à la blancheur des cygnes;
Je hais le mouvement qui déplace les lignes,
Et jamais je ne pleure et jamais je ne ris.

Les poètes, devant mes grandes attitudes,
Que j'ai l'air d'emprunter aux plus fiers monuments,
Consumeront leurs jours en d'austères études;

Car j'ai, pour fasciner ces dociles amants,
De purs miroirs qui font toutes choses plus belles:
Mes yeux, mes larges yeux aux clartés éternelles!



A Beleza – Charles Baudelaire

Como um sonho de pedra, oh mortais! Sou formosa,
E meu seio, onde todo homem sofre sua dor,
É feito p’ra inspirar no poeta um amor
Assim como a matéria, eterna e silenciosa.

Reino no azul como uma esfinge incompreendida;
Branco como o cisne é meu coração de neve;
Odeio o movimento e a sua linha breve,
Nunca chorei nem nunca ri em toda a vida.

Os poetas, ao ver minhas grandes atitudes,
Que imprimo aos colossais, perfeitos, monumentos,
Consumirão seus dias aos tomos mais inrudes;

Tenho para fascinar do amante os momentos,
Espelhos que farão mais bela a realidade:
Os olhos olharão à eterna claridade!

Trad: Raphael Soares



Primeira tentativa de tradução poética usando a língua francesa. E essa é uma tradução criticável por vários aspéctos: 1º o primeiro e quarto versos estão idênticos aos respectivos versos da tradução de Ignácio de Souza Moitta, apesar de ter pensado em usar originalmente [...]bonita/[...]que eterna e muda fica. 2º o sétimo verso lembra muito a tradução de Junqueira e Haddad (que são idênticas nesse verso). 3º o oitavo verso não é um alexandrino, mas um dodecassílabo romântico (acentos na 4ª, 8ª e 12ª vogas, sem censura). 4º poeticamente é uma tradução meio fraca, mas ao menos acho que o léxico e estilo estão meio-baudelairianos.

Para fazer essa tradução, também consultei 4 traduções brasileiras (Almeida, Haddad, Moitta e Junqueira), além de 5 ingesas (Kline, Aggeler, Campbell, Nilan e Shanks).