sábado, 21 de dezembro de 2019

Poema dos Imperadores

Segundo me consta, em 2014-2015 eu comecei a traduzir os fragmentos atribuídos aos imperadores. Meu interesse principal, adiantando, era a poesia de Nero, porém é triste o quão pouco sobreviveu da obra do imperador. Não sabia e não comparei na época, mas Márcio Meirelles Gouvêa Júnior traduziu ainda mais desses fragmentos, com destaque ainda maior para os poemas de Adriano, que, dos imperadores, é o que tem o maior Corpus, embora de autenticidade duvidosa. O artigo pode ser lido aqui.

Não há muito o que explicar que Meirelles Gouvêa não tenha explicado. Gostaria só de chamar atenção para o fato de que a tradução dele para o epigrama de Augusto está "errada" (atenuada), enquanto a minha tradução está mais de acordo com o texto latino. Também só chamaria atenção de que o poema do Nero é chamado de "Do Livro I" (in primo libro Nero), e não há nenhuma indicação de que livro em específico. Considerando que há testemunho de que Nero escreveu uma Troica, é possível assumir que seja esse o livro mencionado no escoliasta de Lucano, mas não é tão claro como Gouvêa diz, de que o escoliasta preservou os hexâmetros DE Troica. Sigo o texto da Teubner, Fragmenta Poetarum [etc], provavelmente... Com isso se o bloguinho tem tudo o que já fiz em matéria de interpretação de poemas latinos. Seguem os poemas:



[Frag]
[SUET. vita Ter. 7 (43 sq. Rost) post Cic. fr. 2: item C. Caesar:]
tu quoque, tu in summis, o dimidiate Menander,
poneris, et merito, puri sermonis amator.
lenibus atque utinam scriptis adiuncta foret vis
comica, ut aequato virtus polleret honore
cum Graecis, neve hac despectus parte iaceres!
unum hoc maceror ac doleo tibi deesse, Terenti.
1tu in summis, o Stephanus:tu in summisso A: tam submisso DEZ: non tam sum(m)isso BCFG|| 2 poneris] pond· eris Apost vis interp. Bentley || 5 neve Roth: neque codd. | despectus cum uno dett. R. Regius, ed. Terent., Venetiis 1473: despectus ex vel despecta ex cett.: despecte ex Baehrens, Courtney

[Frag.]
 Até tu, dentre os maiores, quase Menandro,
com méritos, amante dos límpidos discursos.
No entanto, se os escritos graciosos tivessem vigor
cômico, poderias ter força e honra igual
a dos Gregos, e não sofrerias desrespeito!
Me causa dor e mágoa essa tua falta, Terêncio.

Trad: Raphael Soares


Epigrama
[MART. 11, 20, 1 sq.: Caesaris Augusti lascivos, livide, versus,/ sex lege, qui tristis verba Latina legis:]
quod futuit Glaphyran Antonius, hanc mihi poenam
Fulvia constituit, se quoque uti futuam.
Fulviam ego ut futuam? quid, si me Manius oret
pedicem, faciam? non, puto, si sapiam.
‘aut futue aut pugnemus’ ait. quid quod mihi vita
carior est ipsa mentula? signa canant!
[absolvis lepidos nimirum, Auguste, libellos,/ qui scis Romana simplicitate loqui]

Epigrama
o fato é que Antônio fode Glafira, e como
pena Fúlvia deseja que eu a foda.
Eu devo foder Fúlvia? E se Manius implorasse
para o comer? Não, nem fodendo iria.
“Ou fode ou brigaremos” diz. Qual vale mais,
A vida ou o meu pau? Soem clarins.

Trad: Raphael Soares


LIBER PRIMUM [TROICA?]
        [Adn. Lucan. 3, 261: Tigrin ... de hoc ait in primo libro Nero:]
quique pererratam subductus Persida Tigris
deserit et longo terrarum tractus hiatu
reddit quaesitas iam non quaerentibus undas

LIVRO PRIMEIRO [TROICA?]
e quem em viagem atravessou a Pérsia o Tigre
desertou, e por longas terras transladou,
retorna às caras ondas, sem nenhum querer

Trad: Raphael Soares

Um comentário:

  1. rs a opção pela tradução "atenuada" do epigrama de Augusto não é um erro, apenas uma preferência estilística.

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